Jazz 2020

Não será surpresa para ninguém que a atual pandemia que assombra o mundo tem efeitos muito diretos na circulação entre países. As deslocações, que há bem pouco tempo se resumiam a uma quase formalidade para atravessar continentes, deixaram de ser uma certeza. Essas condicionantes à forma como vivíamos despreocupadamente até há muito pouco tempo convidam-nos a olharmos à nossa volta e a demorarmos mais a nossa atenção em tudo aquilo que nos é próximo. Se o momento nos força a virarmo-nos para dentro, saibamos aprender com esse momento. Daí nasceu a ideia da Fundação Calouste Gulbenkian de abrir o seu Anfiteatro ao Ar Livre a uma cuidada seleção do jazz de vanguarda e da música improvisada nascidos em Portugal.

O Jazz 2020 assume também uma clara vontade de apoiar o regresso aos palcos dos músicos portugueses, num período de reconhecida dificuldade para o meio particular do jazz nacional. Para isso, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu juntar-se à Associação Porta-Jazz, sediada no Porto, e ao Jazz ao Centro Clube, que opera em Coimbra, para a apresentação deste ciclo que se estenderá por 10 concertos – seis dos quais no Anfiteatro ao Ar Livre – entre 31 de Julho e 9 de Agosto.

O arranque do festival acontecerá no magnífico Anfiteatro ao Ar Livre, à boleia de um foco especial dedicado a projetos musicais nascidos em torno da Porta-Jazz. Desde logo, com a abertura a cargo do Coreto, formação que reúne muitos dos músicos que gravitam em torno da associação portuense, seguida da apresentação de Impermanence, muito elogiado quinteto liderado pela trompetista Susana Santos Silva e, no segundo fim-de-semana, do projeto Dentro da Janela, comandado pelo saxofonista João Mortágua.

A imensa diversidade de propostas, prova da enorme vitalidade do jazz português convoca ainda para o Anfiteatro o quinteto feminino Lantana, a harpista Angélica Salvi, o trio The Selva, a mais recente encarnação do grupo Communion de João Lencastre e a homenagem ao compositor Olivier Messiaen que o pianista Daniel Bernardes desenvolveu para partilhar com o Drumming GP.

Coimbra receberá actuações de dois trios (o TGB de Sérgio Carolino, Mário Delgado e Alexandre Frazão, e a parceria entre Luís Vicente, Hugo Antunes e Pedro Melo Alves) e pelo Porto passarão o André Rosinha Trio e o quarteto que junta Ricardo Toscano, Rodrigo Pinheiro, Miguel Mira e Gabriel Ferrandini.

Razões de sobra para sairmos de casa e descobrirmos os entusiasmantes caminhos que o jazz português está a desbravar no presente. E para nos reencontrarmos, com o melhor dos pretextos.

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